Importa louvar quem nos ajuda
03/08/2018 10:16:29
À história das nossas associações
juntam-se sempre nomes de cidadãos e entidades cuja atenção para com elas deve
merecer reconhecimento e testemunho permanente.
Esses cidadãos e entidades
primam, em geral, pela sobriedade de atitudes, pela vontade de passarem
despercebidos e até anónimos, evitam a visibilidade e resistem à exposição
mediática.
A nobreza dessas posturas, porém,
esbarra com a vontade das associações e dos seus bombeiros poderem publicamente
dizer obrigado e apresentar esses benfeitores como um exemplo de solidariedade
e responsabilidade social por excelência.
Percebendo a lógica da atitude
das associações alguns deles admitem aparecer e aceitam ser homenageados. As
associações querem apresentá-los como exemplo a seguir por outros e eles
aceitam a homenagem para também poderem enaltecer o trabalho dos bombeiros e a
justiça do apoio com que os beneficiam.
Nas memórias das associações, ao
longo dos anos, vamos encontrando os mecenas e benfeitores que ficam sem dúvida
associados aos enormes desafios a que elas então se abalançaram. É comum vermos
registados na pedra ou em molduras fotográficas em zonas nobres dos quartéis as
figuras que ficaram intrinsecamente ligadas à construção do quartel, à obtenção
de equipamentos, ou à edificação de outras infraestruturas da instituição. E,
em muitos casos, esses apoios perpetuaram-se no tempo, repetidos vezes sem
conta, e sempre com o mesmo objectivo, de ajudar, de apoiar, de dar força, de
estimular os bombeiros e os seus dirigentes associativos a prosseguirem com a
sua missão.
É na escala local que as
associações de bombeiros têm conseguido garantir os apoios, inclusive, para
fazerem face à solidariedade a que são chamados no socorro fora desse âmbito
noutras zonas do país. Nesse sentido, os apoios obtidos, mesmo que com origem
local, acabam por ter incidência e eficácia regional e até nacional.
Aos apoios particulares aos
bombeiros estão associados muitos milhões de euros. De forma crescente, também,
as autarquias têm vindo a estruturar melhor e a aumentar os apoios concedidos
às associações do seu concelho. Uns e outros ajudam a responder às necessidades
prementes dos bombeiros, seja na aquisição de viaturas, de equipamentos
diversos, em obras ou até em formação. Refira-se que, por exemplo, boa parte
da formação dos bombeiros em tripulantes de ambulância de socorro é obtida
junto de entidades privadas com o apoio dos mecenas ou das autarquias.
Como disse, são milhões de euros
obtidos junto de entidades e cidadãos, substituindo o Estado faltoso e
incumpridor. Não se trata de lugar comum dizê-lo, mas antes uma mera
constatação, tendo conta as necessidades dos bombeiros perfeitamente
identificadas e justificadas, e os meios que lhes são facultados para tal pelo
Estado.
Em abono da verdade, os apoios do
Estado e das entidades particulares e cidadãos, deveriam, no mínimo, ser
complementares. Mas, na maioria dos casos, o que se regista é um enorme fosso,
um grande défice entre o que era suposto ser contributo de uns e outros e a
realidade.
Em face da ausência do Estado, da
demissão ou do divórcio das suas estruturas perante o que dão e deveriam dar,
os mecenas e benfeitores acabam por ser fundamentais à sustentabilidade técnica
e financeira das associações.
Não se trata apenas de recriminar
ou lançar culpas sobre o Estado mas, em termos comparativos, e muito directos,
sem sofismas, nem falsas questões, fazer contas entre o que cada um dá, as
responsabilidades que cabe a cada um satisfazer e os resultados disso.

Hoje em dia há associações que
conseguem manter vivas tradições locais com as quais conseguem obter
periodicamente apoios significativos. É o caso dos cortejos de oferendas, em
que associam os bombeiros, as juntas de freguesias e as comunidades locais,
cuja prática ainda hoje se mantém em muitos sítios. Ou, até, as visitas, dos
bombeiros, comandos e dirigentes, calcorreadas pelas várias freguesias na busca
de apoios para equipamentos específicos. Iniciativas através das quais também
se tenta aumentar o número de associados.
Aliás, tenha-se em conta os
associados. Nos tempos que correm, de facto, o contributo deles para o
orçamento da associação é já apenas simbólico, mas outros tempos houve em que
eram uma base sólida de suporte. Com o evoluir dos tempos, esse contributo veio
diminuindo e, nos dias de hoje, na maioria das associações já só representará
entre 10 a
20 por cento das suas receitas.
Neste caso, não obstante, haverem
casos de êxito em associações com muitos milhares de associados, nas restantes
a realidade é bem diferente. Neste domínio, a forma como hoje a sociedade
encara os seus bombeiros, dando-os como certos na resposta, como garantidos na
sua prontidão e eficácia, sem cuidar de saber, ou desvalorizar, de que modo e
com que meios isso é satisfeito deverá ser tema de reflexão e debate sério.
Debate no interior das próprias associações, mas também dentro da sociedade.
O sentimento de pertença das
associações às respectivas comunidades, contínua vivo, mas, nos dias de hoje,
nem sempre a correspondência delas é nesse sentido.
As associações nasceram e
desenvolveram-se a partir da vontade e da decisão das comunidades. Essa é a sua
matriz identitária e a escala primordial a que intervêm. Sem esquecer tudo
isso, mas tendo em conta que as associações e os seus bombeiros têm sido
chamados, cada vez mais, a intensificar a sua disponibilidade e meios, com
custos crescentes associados, torna-se evidente que a própria comunidade deve
ser chamada à responsabilidade de os apoiar, o Estado deve garantir os apoios
verdadeiros e não os que pretende fazer crer, e as autarquias devem prosseguir
no bom caminho, mesmo se ainda há algumas que se furtam a essa
responsabilidade.
No caso dos benfeitores e mecenas
apenas se pede que prossigam, que intensifiquem os apoios quando tal for
possível e, para já, cumpram a responsabilidade social que têm cumprido até
agora, de forma exemplar.
Artigo
escrito de acordo com a antiga ortografia